Uma boa e bela parte de
minha vida dediquei-me ao estudo dos Diretos Humanos, Mestre em Direitos
Fundamentais aprendi, assistida por ótimos professores e cercada por brilhantes
colegas, todas as teorias, princípios e fundamentos dos Direitos
Humanos. A partir do momento em que me
tornei Mestre em Direitos Fundamentais passei a refletir sobre o sentido de
tudo que aprendi e sobre as reais formas de garantia destes direitos.
Inicialmente limitei minhas
reflexões ao que tinha estudado e ao que compreendi sobre o que seriam os
Direitos Humanos, até que vozes de minha consciência deram outro rumo aos meus
pensamentos.
Ocorreu-me que estes
direitos não eram garantidos porque os homens não suportam uns aos outros e em
sua conquista pelo estado civilizatório perderam o primordial, que era sua incivilidade, e que
nesta incivilidade talvez residisse mais solidariedade do que na consagração da
evolução para a vida social de tolerância.
Apenas toleramos aqueles que
nos são “diferentes” e abrandamos a dor do outro pelo medo de que a mesma dor
possa nos aplacar por uma vingança do cosmos. Somos frágeis e covardes.
E, na verdade, somos frágeis,
covardes e insensatos.
A fragilidade, embora seja
física, é também psicológica e a covardia é por essência.
Mas a insensatez não nos
foi atribuída na essência, a aceitamos e a compartilhamos por imposição ou
adaptação ao meio. Por não me permitir
insensata construí uma ideia melhor sobre o que poderia ser feito para
garantir, pelo menos um pouco, os Direitos Humanos no Brasil.
Tenho visto tantas teorias
de “esquerda” que se vangloriam pelas propostas sociais de integração dos menos
favorecidos com a oferta de moradia de graça, bolsa família, renda mínima,
atitudes politicamente corretas e até uso apropriado de palavras que conferem
“dignidade” aos deficientes, aos favelados, aos negros, aos homossexuais e a
todo tipo de gente “diferenciada”. E todas estas ideias são
surtem qualquer resultado efetivo, senão a solidificação da insensatez e de um
cinismo vergonhoso.
É deplorável ver nossos
partidários dos Direitos Humanos proporem que se mude o tratamento para com as
pessoas sem que se mude suas reais condições. Consterna ver incentivarem as
pessoas a lutarem para ter propriedades adquiridas com o dinheiro da sociedade
e a invadirem a propriedade alheia por justiça social. Desalenta a sublevação
conduzida por jovens de “esquerda” para um melhor sistema de ensino impedindo
que a escola seja frequentada.Que luta lutam os de
“esquerda” senão a antiga e já superada luta em nome da ideia de pessoas
cínicas.
De nada adianta mudar o nome
da favela para comunidade, porque sempre será uma favela se não tiver
saneamento básico, escola, posto médico, área de lazer e, somente por extrema
necessidade, posto da polícia. Nossas favelas serão sempre
favelas enquanto não tiver canos de esgotos e de água tratada. Nossas favelas
serão sempre favelas enquanto as ruas não tiverem asfaltamento, luz e calçadas.
E sempre serão favelas enquanto não tiver hospitais.
Os deficientes serão sempre
os mesmos, ainda que os tratemos como “especiais” se as ruas e transporte
público não lhes ofereçam lugar para caminhar, se o sistema de saúde não lhes
oferecer cuidados, as escolas não os acolherem e os empregos não lhes serem garantidos.
E, os pretos ficarão sempre à margem da sociedade, não obstante os tratarmos de “negros” ou “afrodescendentes”,
se não lhes darmos um lugar de proeminência na sociedade. Onde estão os negros juízes,
médicos, promotores de justiça, gerentes de bancos, diretores de empresas e, o
mais sórdido, políticos? Os partidos políticos de
“esquerda” se reúnem e não vemos nessas reuniões representações significativas
de pretos. Se nos recordamos dos discursos na Câmara Federal e no Senado nos
sofridos dias do julgamento do impeachment da Dilma Roussef não nos lembraremos
de muitos pretos nos plenários. São poucos. Muito poucos.
Então, me vem a reflexão
sobre os senhores de “esquerda” e suas proposições sem qualquer efetividade,
sem qualquer verdade, sem qualquer valor.
Atrevo-me aqui a afirmar que conheço um meio de
garantir os direitos humanos dos pobres, pretos, deficientes e homossexuais bem
simples, e Luiz Gonzaga em “Vozes da Seca” já cantou.
É a construção de um lugar em que todos
circulem em espaços onde a dignidade se impõe. É dar a todas as pessoas
condições de lugar para viver.
Primeiramente chega de tratar Prefeitos, Governadores, Deputados, Senadores e quem mais tem cargo público de "autoridades". São e devem ser chamados de gestores públicos.
E, como gestores do dinheiro e da vida do povo têm que providenciar encanamento de esgotos e água tratada. Que limpem, asfaltem,
calcem, iluminem e limpem as ruas; que adaptem as ruas para os deficientes; que
construam, equipem e tenham profissionais em muitos hospitais e escolas; que
construam linhas de ônibus com horário e linhas metrô onde o ônibus não pode
trafegar.
Dignidade é caminhar por
ruas limpas, não ser assaltado, morar onde haja condições de trabalhar, estudar
e receber atendimento de saúde.
Dignidade é um sentimento
que somente se possui se vivermos em casas que tenham banheiros, água e que as
águas das chuvas não as derrubem ou as invada. É um sentimento que resulta de
uma vida em uma cidade onde se vai ao trabalho em condução apropriada e vai-se
à escola, ao hospital, à delegacia de polícia, ao banco, ao departamento
público e somos recebidos e atendidos.
Dignidade é ter trabalho e
oportunidade de trabalhar no que tivermos talento ou interesse. Dignidade é não
ter que receber a casa comprada com dinheiro dos outros ou sustentar os filhos
com esmolas sociais.
Por favor, senhores
governantes e mocinhos de “esquerda” ou de "direita", cuidem e lutem pela limpeza de nossas
ruas. Façam que o dinheiro público seja usado na estrutura de atendimento a
todos. Façam com que a cidade e rua onde mora o rico tenha a mesma
infraestrutura das cidades e ruas e todos os equipamentos públicos de onde mora
o pobre. Cuidem de dar trabalhos a todos.
De resto, não precisam nos ensinar
como tratar uns aos outros, pois quando um preto for juiz ninguém irá brincar
em ser racista com ele. Quando um deficiente for eficiente ninguém rejeitará
seu trabalho, quando a favela for segura, limpa, calçada e dispor de
equipamentos públicos ninguém chamará o lugar de favela.
E não nos deem o que é dos
outros nem façam favores de nos dar esmolas para comer porque, como cantou
Gonzagão: “uma esmola a um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o
cidadão”.
A não ser que o projeto seja
deixar o povo sem dignidade.
Vozes da Seca
Luiz Gonzaga
Seu doutô os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão
É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê
Pois doutô dos vinte estado temos oito sem
chovê
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem
cumê
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de
barrage
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage
Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa
estiage
Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa
corage
Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra
nação!
Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo
nesse chão
Como vê nosso distino mercê tem nas vossa
mãos.